Proporcionar às
crianças com autismo oportunidades de conviver com outras da mesma faixa etária
possibilita o estímulo às suas capacidades interativas, impedindo o isolamento
contínuo. Além disso, as habilidades sociais são passíveis de serem adquiridas
pelas trocas que acontecem no processo de aprendizagem social. Entretanto, esse
processo requer respeito às singularidades de cada criança. As crianças com
desenvolvimento típico fornecem, entre outros aspectos, modelos de interação
para as crianças com autismo, ainda que a compreensão social destas últimas
seja difícil (CAMARGO,2009).
A convivência
compartilhada da criança com autismo na escola, a partir da sua inclusão no
ensino comum, torna possível os contatos sociais e favorece não só o seu
desenvolvimento, mas o das outras crianças, na medida em que estas últimas
convivam e aprendam com as diferenças.
No entanto, conforme Silva (2009 apud Baptista, 2002) a possibilidade
de inclusão de crianças deficientes lamentavelmente ainda está associada
àquelas que não implicam uma forte reestruturação e adaptação da escola. Nesse
sentido, crianças com prejuízos e déficits cognitivos acentuados, como
psicóticos e autistas, não são consideradas em suas habilidades educativas.
Silva (2009 apud Jordan,2005) aponta a necessidade de orientação aos professores, pois é a falta
de conhecimento a respeito dos transtornos autísticos que os impede de
identificar corretamente as necessidades de seus alunos com autismo. Na medida
em que o sujeito é visto somente sob o ângulo de suas limitações, a crença na
sua educabilidade e possibilidades de desenvolvimento estará associada à
impossibilidade de permanência deste sujeito em espaços como o ensino comum.
Goldberg (2005) realizou uma pesquisa
sobre as expectativas dos professores frente à possibilidade de inclusão de
alunos com autismo em suas classes e demonstrou como resultado que os professores
manifestaram uma tendência a centralizar suas preocupações em fatores pessoais
como, por exemplo, medo e ansiedade frente à sintomatologia mais do que à
criança em si. O interessante é que entre os principais temores estava a dúvida
em como lidar com a agressividade dos alunos, muitos educadores resistem ao
trabalho com crianças autistas devido a temores em não saber lidar com a
agressividade delas, aliás, um aspecto que não é necessariamente característico
desta condição.
Os resultados dos
estudos sobre autismo demonstram que os professores apresentam ideias
distorcidas a respeito do mesmo, principalmente quanto à incapacidade de
comunicação. As dificuldades dos professores, de um modo geral, se apresentaram
na forma de ansiedade e conflito ao lidar com o “diferente”. Por exemplo, no estudo de Goldberg (2005)
houve a tendência de o professor adotar estratégias que, de certa forma, inibem
a expressão dos “sintomas autistas”, como, “manter o aluno ocupado”. Tal estratégia
era utilizada mais como uma tentativa de “dominar” a própria ansiedade do que
como uma prática pedagógica, calcada nas necessidades do aluno. Ideias
preconcebidas e caricaturizadas sobre o autismo, influenciam as expectativas do
professor sobre o desempenho de seus alunos, afetando a eficácia de suas ações.
Aguiar (et al, 2012)
examinaram o relacionamento entre professores de escola comum e doze alunos com
autismo de segunda e terceira séries e observaram que, nos casos em que os
professores percebiam mais positivamente seu relacionamento com os alunos com
autismo, o índice de problemas de comportamento dessas crianças foi menor, e
elas foram mais socialmente incluídas na sala de aula. Nesse sentido, a atuação
junto ao professor é fundamental para que a inclusão escolar aconteça de forma
satisfatória.
Souza (et al, 2004) em
seu trabalho sobre autismo, aborda a questão da criança autista e o período em
que a mesma se encontra em idade escolar. Destaca que é improvável que haja um
atendimento especializado disponível em cada jurisdição escolar para atender as
necessidades das crianças autistas e que nem sempre o atendimento especializado
é a opção preferida; crianças que são levemente autistas ou que são
intelectualmente capazes podem ter mais a ganhar em um estabelecimento
integrado, desde que suas necessidades especiais sejam reconhecidas e
acomodadas. Mesmo as crianças menos capazes podem beneficiar-se, ficando junto
de crianças sociáveis, com outras dificuldades de aprendizado, desde que, uma
vez mais, métodos bem elaborados e explícitos de ensino as habilitem a obter
benefícios.
Segundo Souza (et al, 2004) muitas crianças autistas com severas dificuldades de aprendizado estão
em estabelecimentos em que suas necessidades não são reconhecidas e onde elas causam
consideráveis problemas de manejo ao professor e à sala. Nestes casos, a melhor
solução é o encaminhamento para um atendimento especializado.
Quando não há
ambiente apropriado e condições adequadas à inclusão, a possibilidade de ganhos
no desenvolvimento cede lugar ao prejuízo para todas as crianças. Isso aponta
para a necessidade de reestruturação geral do sistema social e escolar para que
a inclusão se efetive. Diante de uma inclusão adequada, mesmo que uma criança
apresente deficiências cognitivas importantes e apresente dificuldades em
relação aos conteúdos do currículo da educação comum, como pode ser o caso do
autismo, ela pode beneficiar-se das experiências sociais. O aprendizado de
coisas simples do dia-a-dia, como, conhecer-se e estabelecer relações podem
torná-las mais autônomas e independentes, podendo conquistar seu lugar na
família, na escola e na sociedade.
Referências bibliográficas:
AGUIAR, C.; CARVALHO, M.; MORAIS, A.; ORSATI,
F. Incluindo o aluno com autismo na classe regular: uma experiência bem
sucedida com o método da comunicação facilitada. Revista Brasileira de
Tradução visual. Disponível em: < www.scielo.com.br >. Acesso em: Ago /2012.
CAMARGO, S. P. H. e Bosa, C. A. Competência
social, inclusão escolar e autismo: revisão crítica da literatura. Psicologia
& Sociedade; 21 (1): 65-74, 2009. Disponível em:
<www.scielo.com.br>
. Acesso em: 20 out 2012
SOUZA, José Carlos et
al. Atuação do psicólogo frente aos transtornos globais do desenvolvimento
infantil. Psicol. cienc. prof. [online]. 2004, vol.24, n.2, pp. 24-31. ISSN
1414-9893.Disponível em: <www.scielo.com.br>
. Acesso em: 13 Ago 2012.
SILVA, Maria do Carmo Bezerra de Lima;
Brotherhood, Rachel de Maya. Autismo e inclusão: da teoria à prática.Encontro
Internacional de Produção Científica Cesumar. Maringá, Paraná. 2009. Disponível
em:< www.cesumar.br>
Acesso em: 01 nov 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário