Segundo
Gomes (2011) os desafios dos psicólogos escolares são tão concretos como os
problemas que assolam as instituições escolares do País. Há que se superar,
assim, a necessidade de uma formação política e ideológica, que dê embasamentos
para uma ação profissional crítica e construtora da realidade brasileira,
contrapondo-se, efetivamente, a uma política educacional segmentada,
massificante e dominadora, que há muito direciona nossas escolas. A
ressignificação da atuação da Psicologia Escolar passa pela apropriação de
referenciais teóricos e práticos que reafirmem os processos interativos
conscientes e inconscientes, constitutivos dos sujeitos em processo de
ensino-aprendizagem, dentro de uma perspectiva dinâmica e sócio-histórica.
A
construção da nova identidade do psicólogo escolar depende, ainda, de uma
compreensão de respeito e afirmação às diferenças, garantindo o desenvolvimento
do papel de agente social transformador da realidade nas escolas,
principalmente no que se refere às políticas educacionais inclusivas de alunos
portadores de necessidades especiais. A Psicologia não integrou em seus
conceitos a realidade social. E é com esta noção que a Psicologia permaneceu
nas diretrizes educacionais do País, enfocando o sujeito isolado e deixando
ilesas e isentas de culpa as instituições escolares pelo fracasso de seus
alunos, e, consequentemente, responsabilizando-os por sua exclusão.
A
proposta de inclusão escolar oferece, assim, a possibilidade da revisão das
práticas escolares excludentes, que cercam a sociedade historicamente. A
reflexão constante da ação e compromisso com a mudança no tratamento da
diversidade humana se torna o ponto central da participação da Psicologia nesse
debate da inclusão e na busca para uma sociedade democrática. Ser psicólogo
escolar no Brasil é conhecer as necessidades psicológicas de todos os sujeitos
envolvidos, independentemente de classes sociais, capacidades físicas ou
mentais, em situações de risco ou situações abastadas, “é defender os direitos
ao atendimento de suas necessidades e à promoção de seu desenvolvimento, sem
discriminação ou intolerância de qualquer tipo ou grau” (DAZZANI,2010).
Segundo Gomes (2011 apud Bock) a Psicologia deve buscar romper com a cumplicidade que
tem caracterizado sua relação com a educação, para se apresentar como um
conhecimento científico capaz de demonstrar e compreender a dimensão subjetiva
da experiência vivida na escola pelas camadas marginalizadas. Porém, para a
Psicologia assumir este novo modelo precisa superar a visão naturalizante do
desenvolvimento humano, a compreensão do fenômeno psicológico como abstrato e
com características universais. É unanimidade entre alguns pesquisadores e
profissionais da área da Psicologia Escolar, a necessidade de se repensar ações
e práticas profissionais mais comprometidas com a transformação social dos
interesses da maioria da população. A exigência de uma prática profissional que
contemple a construção crítica social e, para tanto, a abordagem das políticas
educacionais inclusivas é um dos meios mais efetivos para esta necessária
transformação profissional.
Em
estudo realizado por Bernardes (2003) revelou-se que a falta de formação
especializada, a inexistência de recursos adequados e de apoio técnico
constante, assim como a realização de serviços de atendimento paralelo e a
redução do número de alunos em sala, foram alguns dos desafios e necessidades
apontados pelos professores para justificar o pouco avanço do processo de
inclusão.
O
processo de inclusão escolar implica mudanças radicais na compreensão dos
sujeitos e na estrutura da escola, questionando, inclusive, os mecanismos sutis
de exclusão aos quais os alunos parecem predestinados cotidianamente. A
responsabilização do êxito ou não da inclusão é direcionado para professores. O
que se percebe, no entanto, é que os professores, quando indicam suas
dificuldades e necessidades, podem também estar chamando a atenção para a sua
condição de isolamento profissional. A democratização da gestão e a educação
inclusiva se relacionam diretamente, e uma escola inclusiva deve ser, antes de
tudo, uma escola democrática. Por outro lado, o que se vivencia ainda nas instituições escolares são práticas que
denotam isolamento dos profissionais, e um distanciamento da compreensão sobre
a política inclusiva.
De
acordo com Dazzani (2010) é necessário desenvolver estudos que
contemplem uma visão sistêmica da inclusão, não atribuindo apenas ao professor
a responsabilidade pelas dificuldades enfrentadas. Urgentes são ainda a
elaboração e construção de instrumentos e recursos pedagógicos que favoreçam o
professor em sua prática cotidiana, além do refinamento dos relatórios psicopedagógicos
desenvolvidos no acompanhamento dos alunos incluídos. Segundo os resultados
obtidos, os relatórios que descrevem o rendimento e o progresso acadêmicos dos
alunos, assim como suas dificuldades e necessidades, em sua maioria são
construídos com a descrição minuciosa das dificuldades dos alunos, sem indicar
possibilidades e necessidades que orientem o trabalho docente.
Assim,
de modo geral, diversos estudos sobre a proposta de inclusão escolar parecem
alertar para a importância de uma maior atenção na implementação das políticas,
enfatizando que a proposta só será efetivada com sucesso quando compreendida
como consequência de uma discussão da necessidade de mudança do paradigma
educacional vigente. Esta mudança de paradigma deve dar ênfase a um maior
compromisso com a diversidade humana e com as transformações das representações
das diferenças. Alguns aspectos que dificultam o processo de inclusão de alunos
com necessidades especiais nas escolas são a falta de capacitação profissional
adequada, a falta de recursos e materiais apropriados, as barreiras
arquitetônicas e físicas, as barreiras humanas atitudinais que permeiam as
práticas pedagógicas em relação à inclusão, dentre outros
(GOLDBERG, 2005).
Referências
Bibliográficas:
Bernardes JLP. Representações
sociais sobre o processo de inclusão em escola pública e particular [Dissertação
de Mestrado]. Brasília: Universidade Católica de Brasília; 2003.
DAZZANI, Maria
Virgínia Machado. A psicologia escolar e a educação inclusiva: Uma leitura
crítica. Psicol. cienc. prof. [online]. 2010, vol.30, n.2, pp. 362-375.
ISSN 1414-9893. Disponível em: <www.scielo.com.br> , Acesso em: 02 nov 2012.
GOMES, Claudia e
SOUZA, Vera Lucia Trevisan de. Educação, psicologia escolar e
inclusão: aproximações necessárias. Rev. psicopedag. [online]. 2011,
vol.28, n.86, pp. 185-193. ISSN 0103-8486. Disponível em: <www.scielo.com.br> . Acesso em: 20 out 2012.
GOLDBERG, K. A
percepção do professor acerca do seu trabalho com crianças portadoras de
autismo e síndrome de Down: um estudo comparativo. Dissertação de Mestrado,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2002.
GOLDBERG, K.,
Pinheiro, L. R. S., & Bosa, C. A. A opção do professor pela área de
educação especial e sua visão acerca de um trabalho inclusivo. Rio Grande do Sul,
2005. Disponível em <www.scielo.com.br>
Acesso em: 15 de out 2012.